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O começo da jornada
Você precisa comer, pagar as contas, guardar algum para eventuais complicações com a saúde, e morar em algum lugar que não seja a casa dos seus pais. Aí você arruma um emprego!
Graças a Deus, arrumei um emprego! E é nesse momento que o Senhor do universo olha pra você e pensa: Calma pequeno gafanhoto! Vá com calma que você não viu nada.
A relação de trabalho começa as mil maravilhas. De um lado tem você que precisa sobreviver e coopera com seu empregador. Do outro lado tem seu empregador que precisa fazer aquela empresa continuar a existir para existir também, e remunera você. Nisso tudo ele precisa de lucro para para garantir a existência da empresa, pagar você e se pagar com um pró-labore (que no início pode não ser muita coisa). Porém a coisa desanda quando um dos lados descobre que o tempo é uma coisa preciosa, e que pode ser usado para ganhar mais dinheiro, e secretamente alimenta em seu coração o sonho de ficar milionário as custas da saúde, da família e de tudo que puder ser sacrificado no altar da fortuna. Isso vale tanto para empregado quanto para empregador.
Se tal desejo for do empregador, a vida do empregado poderá virar de ponta cabeça com jornadas de trabalho intermináveis, cobranças excessivas e descanso reduzido que acabarão evoluindo para um torcicolo do nada, uma inflamação, uma gripezinha, uma dor de cabeça que não passa, cigarros, café, drogas, ansiedade e por fim, será coroado com o Burnout.
Por outro lado se tal desejo for do empregado, todos passos anteriores serão os mesmos, com a diferença de que o empregado fará tudo isso por conta própria e dará a desculpa de que precisa guardar dinheiro para a viagem dos sonhos, para a casa nova, trocar o carro, escola dos filhos, recessão etc. Coloque na cabeça o seguinte:
Se afeta a sua saúde, já não está valendo a pena.
Se te deixa cansado em excesso já não é pra você.
E principalmente, se você fica feliz somente com a sexta-feira e depressivo(a) quando chega domingo a noite, precisa rever sua vida.
A viagem dos sonhos pode esperar.
A casa nova, pode aguardar mais um pouco.
Os filhos podem estudar em uma escola mais barata ou em escola pública.
Recessões acontecem. O lance é fazer um bom planejamento também, para que em casos de emergência, envolvendo saúde, haja cobertura.
A vida é dura para quem é mole.
Mais uma falácia.
Existem vidas em situações bem complicadas, disso não podemos descuidar. Porém há pessoas que usam a frase acima para dar a desculpa de que são duronas, encaram qualquer parada levando a síndrome do super-herói adiante. Resolvem todos os problemas dos outros, angariando muito mais para si.
É necessário desconstruir essa imagem de ser humano a prova de balas que a sociedade construiu.
Resiliência (A Ciência dos materiais que ninguém te fala)
Esse termo tão desgastado na atualidade foi pego da ciência dos materiais, onde sua definição consiste em na capacidade de um material de absorver energia quando é deformado elasticamente e liberar essa energia ao descarregar. A resiliência de prova é definida como a energia máxima que pode ser absorvida até o limite elástico, sem criar uma distorção permanente. (Wiki)
Porém o que ninguém conta é que após a fase elástica, existe a plástica e a fratura ou ruptura. Já na fase plástica o material não retorna a forma original, e se continuar sendo puxado, ele rompe.
O que ocorre com muitas pessoas na atualidade é que já se encontram na fase plástica há muito tempo. Já não são mais aqueles materiais de qualidade e com as mesmas características que podem ser utilizados da mesma forma. Aí entra o papo da resiliência, e a pessoa fica se submetendo as mesmas situações, onde fatalmente acaba ocorrendo o momento da fratura ou ruptura. Momento esse acompanhado de surtos, doença e em alguns casos óbito, provocado por um infarto, AVC ou suicídio.
Saúde mental e empregabilidade
Ninguém quer comprar um objeto defeituoso. Assim como no mundo coorporativo, ninguém quer contratar uma engrenagem desgastada ou que já deu problemas. O mercado costuma ser bastante cruel quanto a isso, mesmo com toda a propaganda de saúde mental no trabalho, com todas as palestras e todos os TedTalks do mundo.
Digo sempre que o diagnóstico inicial sempre deve ser feito pela própria pessoa. E por mais clichê que possa soar, CNPJ nenhum vale sua saúde.
Após uma isquemia, crises de ansiedade, pânico e uma depressão, posso deixar algumas orientações. Podem parecer obvias e bobas, mas quase ninguém presta atenção nisso:
Tome 10 minutos de sol direto. (De preferência todos os dias)
Caminhe pelo menos 30 minutos.
Caso trabalhe em homeoffice, se policie e levante de 2 em 2 horas para evitar trombose.
Não compense seu nervoso com litros de café durante o dia.
Reduza o tempo em frente das telas.
Pratique caminhada na areia da praia, ou vá para alguma praça ou parque para relaxar e conversar.
Se for inevitável, evite fazer mais do que duas horas extras durante a semana.
Se for concurseiro, tire algum tempo diariamente pra fazer as coisas listadas acima e passe tempo com sua família.
Dê atenção a sua família e amigos.
Assista filme e sorria mais vezes.
Quando estiver tomando café ou na presença de amigos e familiares, não use o celular. Registre os momentos uma única vez.
Tenha um sono de qualidade.
Tenha uma boa alimentação. E não abra mão do bolo e do sorvete, apenas pra deixar o shape em dia.
Não se mate na academia ou no exercício físico para compensar o stress.
Faça uma visita ao médico e ao dentista de 6 em 6 meses.
Se o trabalho estiver te causando mal estar físico e mental, avalie a possibilidade de trocar de empresa ou ficar algum tempo em auxílio desemprego até saber o que fazer.
Avalie a possibilidade de trocar de área. Não tenha medo de julgamentos. Só você sabe o que está passando.
Se for religioso, pratique sua fé.
Se crê, pratique a espiritualidade.
Se puder, se souber, medite. Caso não saiba, há vários canais no Youtube que ensinam.
Se for ateu ou ateia, siga os passos anteriores e desconsidere a religião e a espiritualidade. O importante é ficar bem.
E resumindo todas as ideias acima, valorize sua vida!
Independente da sua crença, essa personalidade vive apenas uma vez. Honre aqueles que te amam.
Texto publicado em 2023.
E continua super atual, pelo menos do lado de cá.
Sua vida vale mais! Não se permita chegar ao Burnout.
No meio de todos os subempregos hoje existentes, quase ninguém sobrevive. Não vale a pena se matar de trabalhar onde não há retorno, lugares nos quais as pessoas são vistas pelos Empregadores apenas como Engrenagens substituíveis. Eu já trabalhei em Empresas assim, é horrível demais a sensação de ser visto desse modo e não vale a pena mesmo buscar empregos iguais a esse apenas porque pagam relativamente bem. O preço pago pela Saúde Mental é bem maior.
O Brasil é muito ingrato na questão de trabalho: poucas vagas que pagam razoável, por melhor que seja a sua qualificação. Daí o desespero de se manter empregado a qualquer custo. Vejo muitos europeus tirando períodos de folga durante a vida, e quando retornam se recolocam fácil. É cruel ser trabalhador no Brasil. Mas como você disse, a falta de saúde que isso provoca precisa ser considerada.