Esta é a Carta 12 de uma série de correspondências entre escritores que chamamos carinhosamente de Trocando Farpas. A Impérios Sagrados escreveu a Carta 1 e Carta 7. Fabio Pires escreveu a carta 2 e a 8. O Inominável Ser escreveu a carta 3 e a 9. Samir Cooper escreveu a carta 4 e a 10. Ruan Giollo Brugnerotto escreveu a carta 5 e a 11. E eu, Leonardo E Dutra escrevi a carta 6 e também, por derradeiro, escrevo a 12.
Qual a periodicidade dos posts das cartas? A cada 4 dias!
A pergunta que não quer calar é:
Pode a literatura falar de política sem se sujar?
Os links serão adicionados à medida que as cartas forem publicadas:
“Pane no sistema, alguém me desconfigurou Aonde estão meus olhos de robô? Eu não sabia, eu não tinha percebido Eu sempre achei que era vivo” – (Admirável Chip Novo)
Chegamos, a princípio, a última carta da série “Trocando farpas”. Desde já agradeço a todos os colegas que enviaram suas cartas e também aos que receberam, leram e colaboraram. E fico imensamente feliz também pelos que nada falaram, mas refletiram nessa troca de ideias e ideais.
Espero que quando essa carta chegar até você, não tenhamos perdido toda a flora e fauna brasileira para as chamas.
Lembro que — bem antes da pandemia — eu estava na praia, a noite, passeando com uns três amigos. Na ocasião conversávamos sobre distopias. Naquela época já havia começado a nossa. Pois naquele ano começamos a ser governados por... bem... Você sabe quem...
Durante a conversa, um dos presentes lembrou-se da obra Admirável Mundo novo, do Aldous Huxley (1932). Para quem ainda não teve o prazer de ler, na obra, nos deparamos com uma sociedade totalitária, com um verdadeiro culto a tecnologia científica, onde a felicidade torna-se obrigatória. A desumanização através do condicionamento de Pavlov traz o prazer através de uma pílula, o soma. Queriam um “mundo perfeito”, em sua expressão mais dantesca. Eugenismo e produtividade exacerbada também recheiam a narrativa. Curiosamente, a narrativa dessa obra consegue fazer lembrar dos planos de Lord Valdemort . Que também tinha anseios eugenistas e dominadores, traçando planos para obter uma sociedade feita somente de bruxos (e com ele no comando, é claro!). E quase como um efeito cascata, podemos lembrar de “você sabe quem”, que queria a sociedade brasileira completamente armada, alienada, condicionada ao preconceito, a violência, e com um exército que gastasse 15 milhões de leite condensado e 3,5 milhoes em próteses penianas.
Desculpa meus amores, sempre acabo me empolgando. Voltando ao Admirável Mundo Novo (Nem tão novo assim).
A obra de Huxley, para aqueles que realmente estão atentos a leitura, nos traz uma chuva de pensamentos sobre como uma sociedade controlada e condicionada, a ponto de ter o seu senso crítico atrofiado, pode ficar politicamente alienada, a beira da reificação.
Reificação/ Coisificação (do latim res: "coisa"; em alemão: Verdinglichung, literalmente: "transformar algo em coisa" ou Versachlichung, literalmente: "objetificação") ou coisificação é uma operação mental que consiste em transformar conceitos abstractos em objectos ou mesmo tratar seres humanos como objetos. (Fonte: Wikipedia)
Em uma sociedade onde os seres humanos são produzidos por máquinas especializadas nos centros de encubação, são educados em centros de condicionamento do Estado, e passam por verdadeiras sessões de hipnose para condicionamento dos seus reflexos, podemos ver o quanto parte disso traça um paralelo com a nossa realidade sociopolítica atual.
E realmente estávamos certos naquela ocasião. De 2019 a 2022 vivemos a maior distopia que nosso país pode acompanhar desde 64. E ainda sofremos os seus reflexos. E nem estou falando da pandemia de Covid19.
Voltando a nossa conversa na praia.
Quando estávamos indo embora, surgiu o assunto Avatar: A Lenda de Korra. E como já estávamos conversando sobre política e sociedade, acabamos terminando o assunto nos vilões de Avatar. Cada um deles possuía uma ideologia política, e achava que estava fazendo a coisa certa.
Amon - Queria uma sociedade mais “justa e igualitária.”
Unalaq – Restabelecer o equilíbrio espiritual. (Queria mesmo era se tornar um trevoso controlador.)
Zaheer – Queria Anarquia e Liberdade (Queria mesmo. Mas a qualquer preço.)
Kuvira - Queria Unificação (Usando o fascismo.)
Ao final da nossa conversa, em um mix de distopia e Fantasia Steampunk, concluímos que, embora seja difícil, devemos gastar tempo mesmo com ideias, e ações principalmente, que gerem benefícios para a coletividade, ao invés de nos apegarmos emocionalmente às figuras de autoridade. Assim evitamos ter “lideres de estimação”, que fatalmente vão abusar do Poder, ou sermos alvos de regimes políticos que favoreçam determinado número de pessoas em detrimento de outras.
Tá bom, Léo! Mas o que tem de novo nisso? Nada…
E o que tem de novo nas nossas atitudes em fazer e falar sobre política?
“O que foi tornará a ser, o que foi feito se fará novamente; não há nada novo debaixo do sol.” (Eclesiastes 1:9).
Equilibrium, Os Invisíveis, Matrix e muitas outras obras dentro da Cultura Nerd/Geek falam também dessa orientação de certas pessoas em querer ditar como os demais devem viver e sobreviver. Na verdade, os Extremismos Ideológicos nascem até mesmo dentro de uma deturpação da Linguagem Literária e atingem níveis desastrosos em relação a toda a Comunidade Humana (e a Não-Humana, como as Queimadas no Brasil comprovam). Assim como meu comentário na Carta 11 apontou, o que aqui deixo na sua, Leonardo, também demonstra o meu pessimismo quanto a uma mudança total desse desastroso panorama. No atual momento histórico, não há solução ou saída.
Equilibrium, Os Invisíveis, Matrix e muitas outras obras dentro da Cultura Nerd/Geek falam também dessa orientação de certas pessoas em querer ditar como os demais devem viver e sobreviver. Na verdade, os Extremismos Ideológicos nascem até mesmo dentro de uma deturpação da Linguagem Literária e atingem níveis desastrosos em relação a toda a Comunidade Humana (e a Não-Humana, como as Queimadas no Brasil comprovam). Assim como meu comentário na Carta 11 apontou, o que aqui deixo na sua, Leonardo, também demonstra o meu pessimismo quanto a uma mudança total desse desastroso panorama. No atual momento histórico, não há solução ou saída.